Reunião entre deputado e
representantes das indústrias de eventos e turismo foi organizada pela Academia
Brasileira de Eventos e Turismo, em São Paulo
Deputado Federal Walter Feldman Foto: Lucas Dantas / Divulgação |
O Brasil já perdeu a oportunidade de se preparar
adequadamente para os jogos olímpicos de 2016. Essa é a avaliação do deputado
federal Walter Feldman, que esteve reunido, em São Paulo, com empresários dos
segmentos de eventos e turismo, entre eles Sergio Junqueira Arantes, diretor da
Eventos Expo Editora, e representantes de entidades desses setores, como CNC,
Ubrafe, Skal e outras, em encontro promovido pela Academia Brasileira de
Eventos e Turismo.
Com bagagem de sete meses de estadia em
Londres, durante a organização das últimas olimpíadas sediadas pela capital
britânica, em 2012, Feldman avaliou como negativa a postura do governo
brasileiro no que diz respeito ao planejamento para que o evento pudesse deixar
um grande legado ao país. “Assim como Londres, tivemos sete anos para nos
preparar, mas aqui não estamos dando o devido tratamento público e
governamental para um evento do porte das Olimpíadas. Perdemos o bonde.
Acho que o governo brasileiro não percebeu que se trata de um evento que ocorre
praticamente uma única vez, porque é difícil um mesmo país sediar novamente os
jogos olímpicos. Estamos perdendo muito com isso.”, lamentou.
A convite do ex-prefeito de São Paulo,
Gilberto Kassab, Feldman, então secretário de Esportes, Lazer e Recreação do
município e já designado como secretário de Articulação de Grandes Eventos,
esteve em Londres para acompanhar um período estratégico de organização das
últimas Olimpíadas, com o objetivo principal de reunir informações para a
capital paulista, que será uma das cidades-sede da Copa e rota de turistas
também durante as Olimpíadas. “Os jogos olímpicos não ocorrem só no Rio,
milhões de turistas passarão necessariamente por São Paulo, delegações poderão
ser treinadas aqui, por isso também o nosso interesse. Mas o que me surpreendeu
é que em nenhum momento vimos representantes do Rio em Londres. Alguns
ministérios passaram por lá para participarem de um seminário de três dias, não
mais que isso.”, disse.
Exemplo londrino
Durante a estadia, o deputado observou os
detalhes da organização britânica para o evento com base em um extenso
cronograma de atividades. “Falamos com muitos ministros de estado, com a alta
representação da prefeitura e com a equipe responsável pela organização dos
jogos, que é dividida em três grandes segmentos: autoridades de entrega, que
cuida da montagem da infraestrutura física e de serviços; um grupo que organiza
os jogos em si e um terceiro que cuida da destinação, segundo o governo
britânico, no curto e no longo prazo, ou seja o que fazer depois do evento com
tudo o que foi construído. Para se ter uma ideia, Londres se preparou para que
os legados perdurem nos próximos 100 anos.”, grifou.
Feldman falou ainda sobre as principais
marcas das Olimpíadas de Londres, que foram a governança e a sustentabilidade.
“Nada aconteceu que não passasse por esses princípios. Quando os jogos foram
decididos, em 2005, o governo britânico construiu um sistema de governança
complexo, muito diferente do que vem acontecendo no Brasil. Lá, quem
governa o sistema é o país-sede. E, por ser de interesse do império, precisavam
construir uma governança que englobasse, no mínimo, o conjunto das cidades, o
governo, e que tivesse também a participação do sistema olímpico, que lá se dá
por meio dos próprios atletas. Em Londres, o papel correspondente ao nosso COB
foi apenas o de preparar a seleção britânica.”, explicou. Um processo
participativo e transparente.
Fazer visível um novo modelo de
sustentabilidade também foi uma das intenções do governo local, segundo o deputado.
“Londres quis fazer dos jogos olímpicos um trampolim de retomada do império
britânico, além de mostrar um novo modelo de sustentabilidade, de tecnologia e
o crescimento da sua economia criativa, que tem bastante peso histórico por lá.
Com um trabalho transparente, que integrou o governo central, um conselho
próprio representado pelo primeiro ministro e os próprios atletas, conseguiram
empregar corretamente um orçamento de 9 bilhões de libras esterlinas, com um
saldo ainda de 800 milhões, que acabaram sendo destinados para o reforço da
segurança. Aplicaram o conceito de sustentabilidade em todo o projeto, com a
recuperação de uma região inteira que estava abandonada e contaminada pelos
efeitos da revolução industrial, com a adaptação de tudo o que foi utilizado
para o futuro. Todas as áreas foram passíveis de transformação ou redução após
os jogos.”
Falhas
Sobre as falhas do Brasil em relação à
preparação para 2016, Feldman apontou especialmente a falta de planejamento.
“Aqui não temos transparência com a população, visibilidade. Em Londres
observamos um planejamento estratégico detalhado, com orçamentos executivos,
seguidos, naturalmente, de uma fase construtiva muito rápida. Cronograma
operacional e financeiro a prova de surpresas.”
Perguntado sobre os
investimentos no Rio de Janeiro, o deputado foi enfático. “Os jogos olímpicos
já mudam radicalmente a cidade do Rio. Mudaram na Barra, no Recreio, mas acho
que poderiam mudar também outras áreas de mais necessidade.”
Outra comparação do político foi entre os
modelos de gestão adotados pelos dois países. “No Brasil, temos dificuldade no
envolvimento direto de outras cidades no projeto porque o governante dos jogos
é um prefeito. Esse comando deveria ser federal, assim como foi na Inglaterra”,
ponderou.
Contra o tempo
Mesmo com a balança pendendo para o lado
negativo, o impacto de Londres ainda pode trazer algumas lições para beneficiar
a preparação do Brasil para as Olimpíadas de 2016, na opinião de Feldman.
“Fazendo algumas comparações, acho ainda que há tempo para tentarmos um legado
social mais importante que o de Londres, no nosso caso com o aumento do papel
da atividade física nas escolas. Lá esse quesito deixou a desejar.”, disse o
político, que também é médico e defende a prática regular de atividades físicas
como um princípio importante desde a infância, mas que deixou de ser
obrigatória nas grades curriculares.
Outro ponto que o Brasil ainda pode
explorar, no item desenvolvimento, é o melhor aproveitamento dos potenciais
econômicos e imobiliários do entorno. “Essa foi uma alavanca importante em
Londres e já está mostrando um resultado tremendo em São Paulo, com a
construção do Itaquerão, por exemplo. Para se ter uma ideia, os cerca de R$ 350
milhões investidos na região de Itaquera devem gerar um retorno de cerca de R$
30 bilhões em 20 anos”, finalizou.
Sobre a Academia Brasileira de Eventos e Turismo
A Academia Brasileira de Eventos e Turismo foi inaugurada em
fevereiro 2006 como Academia Brasileira de Eventos. Iniciativa inédita no país,
surgiu da necessidade de nutrir o segmento com pesquisas e dados capazes de
prever conjunturas, amparar crises e nortear ações no que se refere às
tendências mundiais dos segmentos de turismo e eventos e suas reflexões no
Brasil. Tem como objetivo principal trazer, por meio de ações inéditas e
programadas, a integração de esforços para a implementação do setor a nível
nacional e internacional.
Composta atualmente por 35 acadêmicos efetivos e perpétuos,
à semelhança de outras Academias no Brasil e no mundo, tem seu quadro
constituído por profissionais notórios dos segmentos de marketing promocional,
turismo de negócios, promoção comercial, transporte aéreo, hotelaria e
outros. Entre suas principais ações, em
2011 instituiu o Dia do Profissional de Eventos, comemorado em 30 de abril.
Entre alguns dos nomes que já fazem parte da Academia
Brasileira de Eventos e Turismo, estão: Anita Pires (Presidente ABEOC –
Associação Brasileira de Empresas de Eventos), Armando Campos Mello (presidente
da UBRAFE – União Brasileira dos Promotores de Feiras), Carlos Alberto Julio
(Tecnisa), Chieko Aoki (Blue Three Hotels), Eduardo Sanovicz (Associação
Brasileira das Empresas Aéreas e ex-presidente da Embratur), Eraldo Cruz
(Secretario Geral da CNC), Elza Tsumori (Casa Barcelona e Conselho AMPRO –
Associação de Marketing Promocional), Gerard Jean (Presidente Riocentro e
Riotur, Secretário de Turismo do RJ), Guilherme Paulus (CVC), João De Simoni
(conferencista, fundador da AMPRO – Associação de Marketing Promocional), José
Wagner Ferreira (consultor, Ex-VP da TAM e ex-presidente da Webjet), Milton
Zuanazi (SBTUR, ex-ANAC e Ministério do Turismo), Roland de Bonadona (CEO
Accor), Sergio Junqueira Arantes (Diretor da Eventos Expo Editora, Revista
Eventos e Prêmio Caio) e Sergio
Pasqualin (Diretor Expo Center Norte).
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