quinta-feira, 20 de junho de 2013

“Perdemos o bonde”, diz deputado Walter Feldman sobre oportunidade de preparo do Brasil para as Olimpíadas


Reunião entre deputado e representantes das indústrias de eventos e turismo foi organizada pela Academia Brasileira de Eventos e Turismo, em São Paulo

Deputado Federal Walter Feldman
Foto: Lucas Dantas / Divulgação
O Brasil já perdeu a oportunidade de se preparar adequadamente para os jogos olímpicos de 2016. Essa é a avaliação do deputado federal Walter Feldman, que esteve reunido, em São Paulo, com empresários dos segmentos de eventos e turismo, entre eles Sergio Junqueira Arantes, diretor da Eventos Expo Editora, e representantes de entidades desses setores, como CNC, Ubrafe, Skal e outras, em encontro promovido pela Academia Brasileira de Eventos e Turismo.

Com bagagem de sete meses de estadia em Londres, durante a organização das últimas olimpíadas sediadas pela capital britânica, em 2012, Feldman avaliou como negativa a postura do governo brasileiro no que diz respeito ao planejamento para que o evento pudesse deixar um grande legado ao país. “Assim como Londres, tivemos sete anos para nos preparar, mas aqui não estamos dando o devido tratamento público e governamental para um evento do porte das Olimpíadas. Perdemos o bonde.  Acho que o governo brasileiro não percebeu que se trata de um evento que ocorre praticamente uma única vez, porque é difícil um mesmo país sediar novamente os jogos olímpicos. Estamos perdendo muito com isso.”, lamentou.


A convite do ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, Feldman, então secretário de Esportes, Lazer e Recreação do município e já designado como secretário de Articulação de Grandes Eventos, esteve em Londres para acompanhar um período estratégico de organização das últimas Olimpíadas, com o objetivo principal de reunir informações para a capital paulista, que será uma das cidades-sede da Copa e rota de turistas também durante as Olimpíadas. “Os jogos olímpicos não ocorrem só no Rio, milhões de turistas passarão necessariamente por São Paulo, delegações poderão ser treinadas aqui, por isso também o nosso interesse. Mas o que me surpreendeu é que em nenhum momento vimos representantes do Rio em Londres. Alguns ministérios passaram por lá para participarem de um seminário de três dias, não mais que isso.”, disse.

Exemplo londrino

Durante a estadia, o deputado observou os detalhes da organização britânica para o evento com base em um extenso cronograma de atividades. “Falamos com muitos ministros de estado, com a alta representação da prefeitura e com a equipe responsável pela organização dos jogos, que é dividida em três grandes segmentos: autoridades de entrega, que cuida da montagem da infraestrutura física e de serviços; um grupo que organiza os jogos em si e um terceiro que cuida da destinação, segundo o governo britânico, no curto e no longo prazo, ou seja o que fazer depois do evento com tudo o que foi construído. Para se ter uma ideia, Londres se preparou para que os legados perdurem nos próximos 100 anos.”, grifou.

Feldman falou ainda sobre as principais marcas das Olimpíadas de Londres, que foram a governança e a sustentabilidade. “Nada aconteceu que não passasse por esses princípios. Quando os jogos foram decididos, em 2005, o governo britânico construiu um sistema de governança complexo, muito diferente do que vem acontecendo no Brasil.  Lá, quem governa o sistema é o país-sede. E, por ser de interesse do império, precisavam construir uma governança que englobasse, no mínimo, o conjunto das cidades, o governo, e que tivesse também a participação do sistema olímpico, que lá se dá por meio dos próprios atletas. Em Londres, o papel correspondente ao nosso COB foi apenas o de preparar a seleção britânica.”, explicou. Um processo participativo e transparente.

Fazer visível um novo modelo de sustentabilidade também foi uma das intenções do governo local, segundo o deputado. “Londres quis fazer dos jogos olímpicos um trampolim de retomada do império britânico, além de mostrar um novo modelo de sustentabilidade, de tecnologia e o crescimento da sua economia criativa, que tem bastante peso histórico por lá. Com um trabalho transparente, que integrou o governo central, um conselho próprio representado pelo primeiro ministro e os próprios atletas, conseguiram empregar corretamente um orçamento de 9 bilhões de libras esterlinas, com um saldo ainda de 800 milhões, que acabaram sendo destinados para o reforço da segurança. Aplicaram o conceito de sustentabilidade em todo o projeto, com a recuperação de uma região inteira que estava abandonada e contaminada pelos efeitos da revolução industrial, com a adaptação de tudo o que foi utilizado para o futuro. Todas as áreas foram passíveis de transformação ou redução após os jogos.”

Falhas
Sobre as falhas do Brasil em relação à preparação para 2016, Feldman apontou especialmente a falta de planejamento. “Aqui não temos transparência com a população, visibilidade. Em Londres observamos um planejamento estratégico detalhado, com orçamentos executivos, seguidos, naturalmente, de uma fase construtiva muito rápida. Cronograma operacional e financeiro a prova de surpresas.”

Perguntado sobre os investimentos no Rio de Janeiro, o deputado foi enfático. “Os jogos olímpicos já mudam radicalmente a cidade do Rio. Mudaram na Barra, no Recreio, mas acho que poderiam mudar também outras áreas de mais necessidade.”


Outra comparação do político foi entre os modelos de gestão adotados pelos dois países. “No Brasil, temos dificuldade no envolvimento direto de outras cidades no projeto porque o governante dos jogos é um prefeito. Esse comando deveria ser federal, assim como foi na Inglaterra”, ponderou.

Contra o tempo

Mesmo com a balança pendendo para o lado negativo, o impacto de Londres ainda pode trazer algumas lições para beneficiar a preparação do Brasil para as Olimpíadas de 2016, na opinião de Feldman. “Fazendo algumas comparações, acho ainda que há tempo para tentarmos um legado social mais importante que o de Londres, no nosso caso com o aumento do papel da atividade física nas escolas. Lá esse quesito deixou a desejar.”, disse o político, que também é médico e defende a prática regular de atividades físicas como um princípio importante desde a infância, mas que deixou de ser obrigatória nas grades curriculares.

Outro ponto que o Brasil ainda pode explorar, no item desenvolvimento, é o melhor aproveitamento dos potenciais econômicos e imobiliários do entorno. “Essa foi uma alavanca importante em Londres e já está mostrando um resultado tremendo em São Paulo, com a construção do Itaquerão, por exemplo. Para se ter uma ideia, os cerca de R$ 350 milhões investidos na região de Itaquera devem gerar um retorno de cerca de R$ 30 bilhões em 20 anos”, finalizou.

Sobre a Academia Brasileira de Eventos e Turismo

A Academia Brasileira de Eventos e Turismo foi inaugurada em fevereiro 2006 como Academia Brasileira de Eventos. Iniciativa inédita no país, surgiu da necessidade de nutrir o segmento com pesquisas e dados capazes de prever conjunturas, amparar crises e nortear ações no que se refere às tendências mundiais dos segmentos de turismo e eventos e suas reflexões no Brasil. Tem como objetivo principal trazer, por meio de ações inéditas e programadas, a integração de esforços para a implementação do setor a nível nacional e internacional.


Composta atualmente por 35 acadêmicos efetivos e perpétuos, à semelhança de outras Academias no Brasil e no mundo, tem seu quadro constituído por profissionais notórios dos segmentos de marketing promocional, turismo de negócios, promoção comercial, transporte aéreo, hotelaria e outros.  Entre suas principais ações, em 2011 instituiu o Dia do Profissional de Eventos, comemorado em 30 de abril.

Entre alguns dos nomes que já fazem parte da Academia Brasileira de Eventos e Turismo, estão: Anita Pires (Presidente ABEOC – Associação Brasileira de Empresas de Eventos), Armando Campos Mello (presidente da UBRAFE – União Brasileira dos Promotores de Feiras), Carlos Alberto Julio (Tecnisa), Chieko Aoki (Blue Three Hotels), Eduardo Sanovicz (Associação Brasileira das Empresas Aéreas e ex-presidente da Embratur), Eraldo Cruz (Secretario Geral da CNC), Elza Tsumori (Casa Barcelona e Conselho AMPRO – Associação de Marketing Promocional), Gerard Jean (Presidente Riocentro e Riotur, Secretário de Turismo do RJ), Guilherme Paulus (CVC), João De Simoni (conferencista, fundador da AMPRO – Associação de Marketing Promocional), José Wagner Ferreira (consultor, Ex-VP da TAM e ex-presidente da Webjet), Milton Zuanazi (SBTUR, ex-ANAC e Ministério do Turismo), Roland de Bonadona (CEO Accor), Sergio Junqueira Arantes (Diretor da Eventos Expo Editora, Revista Eventos e Prêmio Caio)  e Sergio Pasqualin (Diretor Expo Center Norte).

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